Livros contam histórias. Mas nem todas podem ser descritas em suas páginas. Algumas pessoas se afeiçoam tanto aos livros, que passam a tê-los como confidentes. Escrevem, desenham, colocam coisas dentro deles. Cida conta que já encontrou uma ampla diversidade de objetos. De cartas e poesias a dinheiro. ''Certa vez, achei 500 reais dentro de um livro''. Se ela ficou com o dinheiro? Não, ele já não valia mais nada... Em seu sebo, existe uma caixa de lembranças encontradas nos livros, onde guarda tudo o que encontra neles.
A experiência no sebo e o contato com os livros trouxeram muitas boas histórias para o Bacharel em Audio Visual e ex-funcionário de um sebo da cidade, Pedro Branco. Ele já encontrou uma foto de 1912; uma carta de 1932, que relatava a história de um produtor de manteiga, narrando o sofrimento dos reflexos da crise de 29; um marcador dos anos 70; além de muitas e belas dedicatórias. A primeira edição de Memórias Póstumas de Brás Cubas já passou por suas mãos. ''Nos deparamos com livros extremamente raros, que nunca mais veremos em nossas vidas'', reflete.
A viúva
Certa vez, uma viúva estava se desfazendo da biblioteca do falecido marido, um amante de cinema. Ele possuía diversos filmes e livros sobre a sétima arte. Como os dois estavam de mudança para uma nova casa antes dele morrer, muitas coisas ainda estavam encaixotadas. A viúva levou os itens para o sebo, mesmo sem se certificar o que havia dentro. Quando chegou ao seu destino, os funcionários encontraram, além de livros sobre cinema e arte, uma sacola cheia de filmes eróticos. A risada foi geral.
Dedicatórias
''Uma vez, comprei um livro chamado o Adolescente, de Fíodor Dostoiévski. A edição era bem velha, estava quase se despedaçando. Mas, na primeira página, havia uma dedicatória linda de um pai para uma filha, falando sobre as duas gerações da família. Achei tão lindo que dei de presente para minha namorada. Tempos depois, comprei na livraria uma edição muito melhor que aquela para mim. Ainda assim, fiquei com inveja do presente que tinha dado só por causa da dedicatória'', conta.
Lembranças guardadas
Os vendedores, que mantém mais contato com os livros, de sebos já estão habituados a encontrar objetos que já tiveram muito valor para alguém.
Assim que começou a trabalhar no sebo, Pedro sentia vontade de guardar tudo o que encontrava dentro dos livros. Desde folhas de papel em branco até cartas e fotos. ''Dá pena jogar essas coisas fora. Eu pensava nas pessoas que eram donas daquilo. Cada história me encanta, diz respeito a famílias diferentes, historias diferentes...'' Ele diz que, por conta das dedicatórias, adquiriu um carinho especial por alguns livros. ''Sempre pensava: 'esse livro fez parte da vida de alguém’'', comenta.
A caixa de lembranças do sebo guarda marca páginas antigos, que o tempo fez com que se tornassem amarelados por fora, mas ainda estão coloridos por dentro; cartas antigas, do século XVIII; desenhos; fotos; pétalas de flores.
Personagens curiososAlém de estudantes e amantes de livros, os sebos da cidade recebem figuras bastante peculiares. Pessoas querendo se desfazer de objetos a qualquer custo. ''No Sebo em que eu trabalhava, já vieram perguntar se lá vendia estantes, roupas. Eu respondia, admirado, 'não, aqui só se vende livros!'', ri.
por Claudia Carpo e Lucas Cajueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário