terça-feira, 24 de maio de 2011

Livros, páginas e histórias


Sempre que um livro é solicitado nas aulas da faculdade, o estudante de direito Thiago Ferrari não tem dúvidas: visita os sebos da cidade. "Eu sempre venho aqui nos finais de semana, porque encontro livros com edições que não estão sendo mais comercializadas. Esse é o lugar certo para buscar''. Os sebos compram e revendem livros, revistas, CDs, DVDs e LPs usados. Para Thiago, é fundamental, antes de procurar um exemplar nas livrarias, ir a um destes pontos. "Eu vejo o preço em vários lugares. Os livros que me interessam são mais baratos aqui", afirma.  


Os sebos surgiram no século dezesseis, na Europa. Estudiosos e colecionadores encontravam-se em grandes centros para vender livros usados e raros. Aqui no Brasil, a ideia surgiu no século dezenove, durante o Império, quando as primeiras máquinas de impressão foram trazidas para cá. Até então, não existiam livros impressos no país, a não ser que fossem importados. A necessidade crescente de comprar e vender livros usados e antigos deu origem aos sebos daqui. Na época, eram chamados de alfarrábios. A tradição dessas lojas persiste até hoje.


Não se sabe certamente a origem do nome sebo. Alguns dizem que ele se refere ao aspecto velho e usado dos livros, como se estivessem ensebados. Outros admitem a possibilidade do nome ser referência ao sebo das velas, que caíam nos livros quando as pessoas liam no escuro.


Embora os sebos sejam mais conhecidos como pontos de venda de livros, eles também comercializam outros produtos. A servidora pública Juliana Soares é colecionadora de LPs. ''Quando venho ao sebo, geralmente procuro discos e livros. Geralmente, eles são mais baratos que nas lojas. Aqui, encontro muitos LPs bastante antigos que valem a pena'', afirma, depois de muitos minutos analisando cada LP disponível na loja.


O processo de compra e venda de livros depende muito dos critérios de cada sebo. Em geral, a venda para o público é mais uniforme. Na maioria das vezes, os preços caem em até 50% do valor de um livro novo de uma livraria convencional, se a edição for atualizada e o exemplar estiver bem conservado.


Já quando os sebos adquirem livros de alguém, os critérios variam mais. Isso porque os menores sebos, isto é, aqueles com menos condições financeiras, não podem pagar um preço justo por um livro. Por este motivo, eles não pagam em dinheiro e sim trocam os livros com seus consumidores ou utilizam os vale-livros. Para os maiores sebos, as regras também variam, pois a compra depende de fatores como o estado de conservação do livro, a vendabilidade, quantos exemplares estão disponíveis no estoque, a atualização da edição, entre outros aspectos. Em geral, os sebos pagam melhor se o livro for de uma edição atualizada, estiver em bom estado e for raro. Nestes casos, a loja pode comprar por no máximo 25% do preço do mesmo livro novo, em uma livraria convencional.


Para os vendedores destes locais, o clima de trabalho é um diferencial. Responsáveis pela organização dos livros nas estantes, a correria já faz parte de suas rotinas. Além disso, eles não deixam de recomendar livros aos clientes. A estudante de letras Fernanda Silva trabalha há um ano e meio como vendedora de um sebo em Brasília. Apaixonada por livros, ela aponta os benefícios de se trabalhar próximo a eles. ''Como estudante de letras e amante de livros, o contato com eles é o mais interessante. Estou sempre aprendendo algo novo, pois entro em contato com livros de todas as áreas. Acabo descobrindo o que o pessoal mais estuda. Esse conhecimento é o mais gostoso'', afirma.


A diversidade do público frequentador do sebo faz com que os funcionários dêem muitas indicações de livros aos clientes. ''A maioria das pessoas aqui lê muito!'', comenta. Sempre há uma lista de livros recomendados. Os clientes podem colaborar, sugerindo títulos.


Em Brasília, só na Asa Norte existem mais de cinco sebos. Cida Caldas é dona do Sebinho, localizado na 406N. Ela conta que, embora tenha um negócio de sucesso e que é muito prazeroso trabalhar nele, o sebo, que surgiu em 1985, teve uma história de muito trabalho e dedicação .


No início, a loja começou com um pequeno espaço. Como não tinha condições financeiras para maiores investimentos, Cida vendia seus próprios livros. Com o tempo, os amigos doaram mais livros e ajudaram-na a aumentar seu estoque de produtos. O sebo tornou-se mais conhecido. Atualmente, tem mais de cem mil títulos catalogados. O espaço físico também cresceu. Agora, tem um café e uma área com mesas. O ambiente agradável possibilita que os clientes possam marcar encontros com amigos, comer ou beber alguma coisa e trocar ideias sobre títulos.


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Confira: histórias de um sebo




por Claudia Carpo e Lucas Cajueiro

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